Colecção: Mimésis, n.º 3
Formato: 16 x 24 cm
N.º de páginas: 248
ISBN: 978-989-95884-5-5
PVP: 24,00€ (IVA inc.)
A imagem tornou-se matéria de investigação e ensino.
A Imagem, um dos melhores livros sobre o tema, vem abordar as grandes problemáticas em torno desta questão: O que é ver uma imagem? Como a caracterizar enquanto fenómeno perceptivo? Quem olha a imagem? Qual o dispositivo que regula a relação do espectador com a imagem? Como é que a imagem representa o mundo real? E como produz significados? Quais os critérios que nos levam a considerar algumas imagens artísticas?
Através de uma análise clara e precisa, acompanhada de diversas ilustrações, este livro fornece uma síntese original dos saberes contemporâneos sobre a imagem, pela mão de um especialista de renome.
Jacques Aumont é professor de história e de estética do cinema na Universidade de Paris III (Sorbonne Nouvelle), e foi também director do Collège d'histoire de l'art cinématographique (Cinemateca francesa). Personalidade de destaque no ensaísmo e na crítica cinematográfica, é autor de uma vasta obra de análise crítica e divulgação, de que salientamos: O Cinema e a Encenação (Texto & Grafia, 2008), A Imagem (a publicar com a nossa chancela em Março de 2009), La théorie des cinéastes (2002), e Matières d'Images (2005), entre muitos outros livros.
Jacques Aumont é professor de história e de estética do cinema na Universidade de Paris III (Sorbonne Nouvelle), e foi também director do Collège d'histoire de l'art cinématographique (Cinemateca francesa). Personalidade de destaque no ensaísmo e na crítica cinematográfica, é autor de uma vasta obra de análise crítica e divulgação, de que salientamos: O Cinema e a Encenação (Texto & Grafia, 2008), A Imagem (a publicar com a nossa chancela em Março de 2009), La théorie des cinéastes (2002), e Matières d'Images (2005), entre muitos outros livros.
Aqui fica um excerto da obra:
Introdução
A Imagem: título ambicioso, na sua brevidade, já que parece designar como assunto deste livro um domínio vasto e diverso da actividade humana. A imagem tem inúmeras actualizações potenciais, algumas que se dirigem aos nossos sentidos, outras apenas ao nosso intelecto, como quando falamos do poder de certas palavras para “fazer imagem”, numa utilização metafórica, por exemplo. É preciso então começar por dizer que, sem ignorar essa multiplicidade de sentidos, limitar‑nos‑emos aqui a uma variedade de imagens, as que têm uma forma visível, as imagens visuais.
Este livro trata pois da imagem visual como modalidade particular da imagem em geral; por essa razão, o seu tema será propositadamente mantido numa grande generalidade; sem esquecer as suas diferenças, trata‑se de falar do que é comum a todas as linguagens visuais, seja qual for a sua natureza, forma, uso e modo de produção. Semelhante projecto, da caneta de alguém que, anteriormente, estudou sobretudo a imagem cinematográfica, não é inocente. Ele advém, no essencial, de duas verificações:
– Primeiro, e de um ponto de vista de algum modo interno à pedagogia da imagem, pareceu‑me cada vez mais evidente, enquanto ia ensinando a teoria e a estética do cinema, que esta não podia desenvolver‑se num isolamento esplêndido, mas que pelo contrário era indispensável articulá‑la, histórica e teoricamente, com uma consideração de outras modalidades concretas da imagem visual – a pintura, a fotografia, o vídeo, para só citar as mais importantes. No fundo, pareceu‑me quase absurdo continuar a falar do enquadramento no cinema sem confrontar verdadeiramente o conceito com o do quadro pictural, como me pareceu pernicioso falar do fotograma sem considerar o instantâneo fotográfico, etc.
– Essa primeira verificação, reforçada ao longo dos anos, provém na verdade de uma outra, mais ampla, que concerne ao destino das imagens em geral na nossa sociedade. É costumeiro falar‑se de uma “civilização da imagem”, mas essa fórmula dá bem conta do sentimento que todos temos de viver num mundo em que as imagens são cada vez mais numerosas, é certo, mas também cada vez mais diversificadas e intermutáveis. Hoje vemos o cinema na televisão, tal como há muito tempo vemos a pintura em reprodução fotográfica. Os cruzamentos, as trocas, as passagens da imagem são cada vez em maior número, e pareceu‑me portanto que hoje em dia já não se podia estudar qualquer categoria particular de imagens sem tomar em consideração todas as outras.
É essa verificação inicial que explica a posição adoptada neste livro. Primeiro, permanecer tanto quanto possível ao nível dos conceitos mais gerais, e nunca teorizar a partir de uma modalidade particular da imagem. Ao mesmo tempo, bem entendido, dar amplo espaço a uma consideração efectiva – como exemplo, aplicação, caso particular – das imagens específicas (a imagem fílmica, a imagem fotográfica, etc.), até imagens singulares. Em seguida, organizar a exposição à volta de títulos de capítulos que encarnam os grandes problemas da teoria das imagens. Esses problemas pareceram‑me ser cinco, se quiséssemos limitar‑nos à sua essência:
1. Dado que este livro se dedica às imagens visuais, é preciso começarmos por nos interrogar sobre a visão das imagens. O que é ver uma imagem, o que é percebê‑la, e como se caracteriza essa percepção relativamente aos fenómenos perceptivos em geral?
2. A visão, a percepção visual, é uma actividade complexa, que não é possível, a bem dizer, separar das grandes funções psíquicas, a intelecção, a cognição, a memória, o desejo. Também a pesquisa, começada “do exterior”, que segue a luz ao penetrar no olho, leva logicamente a que consideremos o sujeito que olha a imagem, aquele para quem ela é feita, e a que chamaremos o seu espectador.
3. Sempre seguindo o mesmo fio imaginário, é claro que mesmo esse espectador nunca tem, com as imagens que contempla, uma relação abstracta, “pura”, afastada de qualquer realidade concreta. Pelo contrário, a visão efectiva das imagens tem lugar num contexto, determinado multiplamente: contexto social, institucional, técnico, ideológico. É ao conjunto desses factores “situacionais”, se assim podemos dizer, desses factores que regulam a relação do espectador com a imagem, que chamaremos o dispositivo.
4. Tendo assim considerado os principais aspectos da relação entre uma imagem concreta e o seu destinatário concreto, torna‑se possível tomar em consideração o funcionamento próprio da imagem. Que relação estabelece ela com o mundo real – por outras palavras: como o representa ela? Quais são as formas e os meios dessa representação, como é que ela trata as grandes categorias da nossa concepção da realidade que são o espaço e o tempo? E também, como é que a imagem inscreve significações?
5. Por fim, é impossível falar da imagem sem nos referirmos às imagens efectivamente existentes. Entre essas imagens reais, este livro escolheu privilegiar algumas: as imagens artísticas. O último capítulo é pois consagrado a
um exame de certas especificidades dessas imagens, das suas virtudes e dos seus valores particulares.
Este plano pode parecer ambicioso, dado cobrir, potencialmente, matéria de vários tratados especializados. Estou consciente, em especial, do facto de que o primeiro capítulo, que trata de teorias mais formalizadas, e até modelizadas, poder parecer mais técnico, e portanto de maior dificuldade de leitura para alguns leitores. A sua colocação na abertura do livro pareceu‑me contudo ser a solução mais lógica e também a mais eficaz, visto introduzir alguns conceitos fundamentais geralmente mal conhecidos, e que os capítulos seguintes dão por adquiridos. Aqui, sobretudo, fiz um esforço suplementar de clareza; aos leitores a quem este capítulo possa apresentar dificuldades peço um pouco de paciência, convencido de que o conjunto do livro lhes pareça mais ameno.
Se portanto me pareceu desejável adoptar e manter este plano, de correr o risco de resumir vários tratados num compêndio ligeiro, é justamente porque não se tratava de oferecer um tratado, mas de expor simplesmente o estado actual das concepções relativas à imagem num certo número de áreas. Desse ponto de vista, este livro não é mais do que uma introdução a análises mais especializadas. Mas, ao inverso, pareceu‑me indispensável assinalar a própria multiplicidade dessas abordagens. Ao escrever o livro, pensei em primeiro lugar nos estudantes com quem me tenho encontrado no ensino do cinema na universidade; é por saber quanto o saber teórico que lhes é dispensado é em geral parcelizado que tentei, não ser exaustivo, mas permitir a esses estudantes situar aquilo que sabem sobre
a imagem fílmica numa reflexão mais vasta e menos contingente.
Parece‑me evidente que, se o consegui, este livro dirige‑se da mesma maneira a todos aqueles que têm sobre diversas espécies de imagens, sobre este ou aquele fenómeno ligado à existência da imagem, um saber particular, que ajudará, espero, a relativizar esse saber e, ao mesmo tempo, a consolidá‑lo.
Este livro trata pois da imagem visual como modalidade particular da imagem em geral; por essa razão, o seu tema será propositadamente mantido numa grande generalidade; sem esquecer as suas diferenças, trata‑se de falar do que é comum a todas as linguagens visuais, seja qual for a sua natureza, forma, uso e modo de produção. Semelhante projecto, da caneta de alguém que, anteriormente, estudou sobretudo a imagem cinematográfica, não é inocente. Ele advém, no essencial, de duas verificações:
– Primeiro, e de um ponto de vista de algum modo interno à pedagogia da imagem, pareceu‑me cada vez mais evidente, enquanto ia ensinando a teoria e a estética do cinema, que esta não podia desenvolver‑se num isolamento esplêndido, mas que pelo contrário era indispensável articulá‑la, histórica e teoricamente, com uma consideração de outras modalidades concretas da imagem visual – a pintura, a fotografia, o vídeo, para só citar as mais importantes. No fundo, pareceu‑me quase absurdo continuar a falar do enquadramento no cinema sem confrontar verdadeiramente o conceito com o do quadro pictural, como me pareceu pernicioso falar do fotograma sem considerar o instantâneo fotográfico, etc.
– Essa primeira verificação, reforçada ao longo dos anos, provém na verdade de uma outra, mais ampla, que concerne ao destino das imagens em geral na nossa sociedade. É costumeiro falar‑se de uma “civilização da imagem”, mas essa fórmula dá bem conta do sentimento que todos temos de viver num mundo em que as imagens são cada vez mais numerosas, é certo, mas também cada vez mais diversificadas e intermutáveis. Hoje vemos o cinema na televisão, tal como há muito tempo vemos a pintura em reprodução fotográfica. Os cruzamentos, as trocas, as passagens da imagem são cada vez em maior número, e pareceu‑me portanto que hoje em dia já não se podia estudar qualquer categoria particular de imagens sem tomar em consideração todas as outras.
É essa verificação inicial que explica a posição adoptada neste livro. Primeiro, permanecer tanto quanto possível ao nível dos conceitos mais gerais, e nunca teorizar a partir de uma modalidade particular da imagem. Ao mesmo tempo, bem entendido, dar amplo espaço a uma consideração efectiva – como exemplo, aplicação, caso particular – das imagens específicas (a imagem fílmica, a imagem fotográfica, etc.), até imagens singulares. Em seguida, organizar a exposição à volta de títulos de capítulos que encarnam os grandes problemas da teoria das imagens. Esses problemas pareceram‑me ser cinco, se quiséssemos limitar‑nos à sua essência:
1. Dado que este livro se dedica às imagens visuais, é preciso começarmos por nos interrogar sobre a visão das imagens. O que é ver uma imagem, o que é percebê‑la, e como se caracteriza essa percepção relativamente aos fenómenos perceptivos em geral?
2. A visão, a percepção visual, é uma actividade complexa, que não é possível, a bem dizer, separar das grandes funções psíquicas, a intelecção, a cognição, a memória, o desejo. Também a pesquisa, começada “do exterior”, que segue a luz ao penetrar no olho, leva logicamente a que consideremos o sujeito que olha a imagem, aquele para quem ela é feita, e a que chamaremos o seu espectador.
3. Sempre seguindo o mesmo fio imaginário, é claro que mesmo esse espectador nunca tem, com as imagens que contempla, uma relação abstracta, “pura”, afastada de qualquer realidade concreta. Pelo contrário, a visão efectiva das imagens tem lugar num contexto, determinado multiplamente: contexto social, institucional, técnico, ideológico. É ao conjunto desses factores “situacionais”, se assim podemos dizer, desses factores que regulam a relação do espectador com a imagem, que chamaremos o dispositivo.
4. Tendo assim considerado os principais aspectos da relação entre uma imagem concreta e o seu destinatário concreto, torna‑se possível tomar em consideração o funcionamento próprio da imagem. Que relação estabelece ela com o mundo real – por outras palavras: como o representa ela? Quais são as formas e os meios dessa representação, como é que ela trata as grandes categorias da nossa concepção da realidade que são o espaço e o tempo? E também, como é que a imagem inscreve significações?
5. Por fim, é impossível falar da imagem sem nos referirmos às imagens efectivamente existentes. Entre essas imagens reais, este livro escolheu privilegiar algumas: as imagens artísticas. O último capítulo é pois consagrado a
um exame de certas especificidades dessas imagens, das suas virtudes e dos seus valores particulares.
Este plano pode parecer ambicioso, dado cobrir, potencialmente, matéria de vários tratados especializados. Estou consciente, em especial, do facto de que o primeiro capítulo, que trata de teorias mais formalizadas, e até modelizadas, poder parecer mais técnico, e portanto de maior dificuldade de leitura para alguns leitores. A sua colocação na abertura do livro pareceu‑me contudo ser a solução mais lógica e também a mais eficaz, visto introduzir alguns conceitos fundamentais geralmente mal conhecidos, e que os capítulos seguintes dão por adquiridos. Aqui, sobretudo, fiz um esforço suplementar de clareza; aos leitores a quem este capítulo possa apresentar dificuldades peço um pouco de paciência, convencido de que o conjunto do livro lhes pareça mais ameno.
Se portanto me pareceu desejável adoptar e manter este plano, de correr o risco de resumir vários tratados num compêndio ligeiro, é justamente porque não se tratava de oferecer um tratado, mas de expor simplesmente o estado actual das concepções relativas à imagem num certo número de áreas. Desse ponto de vista, este livro não é mais do que uma introdução a análises mais especializadas. Mas, ao inverso, pareceu‑me indispensável assinalar a própria multiplicidade dessas abordagens. Ao escrever o livro, pensei em primeiro lugar nos estudantes com quem me tenho encontrado no ensino do cinema na universidade; é por saber quanto o saber teórico que lhes é dispensado é em geral parcelizado que tentei, não ser exaustivo, mas permitir a esses estudantes situar aquilo que sabem sobre
a imagem fílmica numa reflexão mais vasta e menos contingente.
Parece‑me evidente que, se o consegui, este livro dirige‑se da mesma maneira a todos aqueles que têm sobre diversas espécies de imagens, sobre este ou aquele fenómeno ligado à existência da imagem, um saber particular, que ajudará, espero, a relativizar esse saber e, ao mesmo tempo, a consolidá‑lo.