Colecção: Pilares, n.º 1
Formato: 16 x 24 cm
N.º de páginas: 192
ISBN: 978-989-95884-2-4
PVP: 19,00€ (IVA inc.)
Este é o livro de um descrente que procura compreender como o Cristianismo, obra-prima da criação religiosa, se impôs a todo o Ocidente.
À sua maneira inimitável, erudita e, por vezes, impertinente, Paul Veyne inventaria, para isso, três razões:
- Um imperador romano, Constantino, converte-se sinceramente ao Cristianismo;
- Constantino converteu-se porque precisava de uma grande religião;
- Constantino foi o grande impulsionador da criação da Igreja Cristã, através da rede de bispados espalhada pelo imenso Império Romano.
De passagem, Paul Veyne evoca outras questões: de onde vem o monoteísmo? Tem fundamento falar de ideologia? A religião tem raízes psicológicas? E temos nós origens cristãs?
Quando o nosso mundo se tornou cristãodestina-se a todos os leitores sem excepção, em especial aos interessados pelos grandes momentos da História. O público já familiarizado com o trabalho de Paul Veyne, verá as suas expectativas superadas.
Historiador admirável, académico de renome com várias obras publicadas, Paul Veyne lecciona desde 1975 no Collège de France como titular da cadeira de História de Roma, actualmente na qualidade de professor honorário.
Aqui fica aqui um excerto:
« Converter os pagãos? Vasto programa. Constantino reconhece que a sua resistência (epanastasis) é tal que renuncia a impor‑lhes a Verdade e continuará tolerante, apesar dos seus anseios; depois das suas duas grandes vitórias, em 312 e em 324, tem o cuidado de tranquilizar os pagãos das províncias que acabara de adquirir: “Que aqueles que se enganam gozem da paz, que cada um conserve o que a sua alma quer ter, que ninguém atormente ninguém.” Manterá as promessas, o culto pagão só será abolido meio século depois da sua morte e apenas Justiniano, dois séculos mais tarde, começará a querer converter os últimos pagãos, tal como os Judeus.
Tal foi o “pragmatismo de Constantino”, que teve uma grande vantagem. Não obrigando os pagãos à conversão, Constantino evitou vira‑los contra si e contra o cristianismo (cujo futuro estava bem menos assegurado do que se crê e que quase soçobrou em 364, como se verá). Frente à elite partidista que era a seita cristã, as massas pagãs puderam viver na incúria, indiferentes ao capricho do seu imperador; só uma pequena elite de letrados pagãos sofria.
Constantino, dizíamos nós, deixou em paz os pagãos e os seus cultos, mesmo depois de 324, quando a reunificação do Oriente e do Ocidente, sob o seu ceptro, o tornou todo‑poderoso. Neste ano, dirige proclamações aos seus novos súbditos orientais e, em seguida, a todos os habitantes do seu império. Escritas num estilo mais pessoal do que oficial, saem da pena de um cristão convencido que exprime em palavras a ignomínia do paganismo, que proclama que o cristianismo é a única boa religião, que argumenta neste sentido (as vitórias do príncipe são uma prova do verdadeiro Deus), mas que não toma nenhuma medida contra o paganismo: Constantino não será, por seu turno, um perseguidor, o Império viverá em paz. Melhor ainda, proíbe formalmente a quem quer que seja de se dar mal com o seu próximo por motivos religiosos: a tranquilidade pública deve reinar – o que visava, sem dúvida, cristãos demasiado zelosos, prontos a arremeter contra as cerimónias pagãs e os templos.
O papel do imperador romano era de uma ambiguidade de enlouquecer (três séculos antes de Constantino, arrastou para a paranóia o primeiro sucessor, Tibério, do fundador do regime imperial). Um César devia ter quatro linguagens: a de um chefe cujo poder civil é de tipo militar e que dá ordens; a de um ser superior (mas sem ser um deus vivo) em relação ao qual aumenta o culto da personalidade; a de um membro de um grande conselho do Império, o Senado, onde ele é apenas o primeiro entre os seus pares, que nem por isso deixam de recear pela sua cabeça; a do primeiro magistrado do Império, que comunica com os seus concidadãos e diante deles se explica. Nas suas ordenanças ou proclamações de 324, Constantino escolheu esta linguagem misturando‑a a uma quinta, a de um príncipe cristão convicto, propagandista da sua fé e que vê no paganismo uma “superstição desvantajosa”, enquanto o cristianismo é a “santíssima Lei” divina. » (págs. 16-17)
À sua maneira inimitável, erudita e, por vezes, impertinente, Paul Veyne inventaria, para isso, três razões:
- Um imperador romano, Constantino, converte-se sinceramente ao Cristianismo;
- Constantino converteu-se porque precisava de uma grande religião;
- Constantino foi o grande impulsionador da criação da Igreja Cristã, através da rede de bispados espalhada pelo imenso Império Romano.
De passagem, Paul Veyne evoca outras questões: de onde vem o monoteísmo? Tem fundamento falar de ideologia? A religião tem raízes psicológicas? E temos nós origens cristãs?
Quando o nosso mundo se tornou cristãodestina-se a todos os leitores sem excepção, em especial aos interessados pelos grandes momentos da História. O público já familiarizado com o trabalho de Paul Veyne, verá as suas expectativas superadas.
Historiador admirável, académico de renome com várias obras publicadas, Paul Veyne lecciona desde 1975 no Collège de France como titular da cadeira de História de Roma, actualmente na qualidade de professor honorário.
Aqui fica aqui um excerto:
« Converter os pagãos? Vasto programa. Constantino reconhece que a sua resistência (epanastasis) é tal que renuncia a impor‑lhes a Verdade e continuará tolerante, apesar dos seus anseios; depois das suas duas grandes vitórias, em 312 e em 324, tem o cuidado de tranquilizar os pagãos das províncias que acabara de adquirir: “Que aqueles que se enganam gozem da paz, que cada um conserve o que a sua alma quer ter, que ninguém atormente ninguém.” Manterá as promessas, o culto pagão só será abolido meio século depois da sua morte e apenas Justiniano, dois séculos mais tarde, começará a querer converter os últimos pagãos, tal como os Judeus.
Tal foi o “pragmatismo de Constantino”, que teve uma grande vantagem. Não obrigando os pagãos à conversão, Constantino evitou vira‑los contra si e contra o cristianismo (cujo futuro estava bem menos assegurado do que se crê e que quase soçobrou em 364, como se verá). Frente à elite partidista que era a seita cristã, as massas pagãs puderam viver na incúria, indiferentes ao capricho do seu imperador; só uma pequena elite de letrados pagãos sofria.
Constantino, dizíamos nós, deixou em paz os pagãos e os seus cultos, mesmo depois de 324, quando a reunificação do Oriente e do Ocidente, sob o seu ceptro, o tornou todo‑poderoso. Neste ano, dirige proclamações aos seus novos súbditos orientais e, em seguida, a todos os habitantes do seu império. Escritas num estilo mais pessoal do que oficial, saem da pena de um cristão convencido que exprime em palavras a ignomínia do paganismo, que proclama que o cristianismo é a única boa religião, que argumenta neste sentido (as vitórias do príncipe são uma prova do verdadeiro Deus), mas que não toma nenhuma medida contra o paganismo: Constantino não será, por seu turno, um perseguidor, o Império viverá em paz. Melhor ainda, proíbe formalmente a quem quer que seja de se dar mal com o seu próximo por motivos religiosos: a tranquilidade pública deve reinar – o que visava, sem dúvida, cristãos demasiado zelosos, prontos a arremeter contra as cerimónias pagãs e os templos.
O papel do imperador romano era de uma ambiguidade de enlouquecer (três séculos antes de Constantino, arrastou para a paranóia o primeiro sucessor, Tibério, do fundador do regime imperial). Um César devia ter quatro linguagens: a de um chefe cujo poder civil é de tipo militar e que dá ordens; a de um ser superior (mas sem ser um deus vivo) em relação ao qual aumenta o culto da personalidade; a de um membro de um grande conselho do Império, o Senado, onde ele é apenas o primeiro entre os seus pares, que nem por isso deixam de recear pela sua cabeça; a do primeiro magistrado do Império, que comunica com os seus concidadãos e diante deles se explica. Nas suas ordenanças ou proclamações de 324, Constantino escolheu esta linguagem misturando‑a a uma quinta, a de um príncipe cristão convicto, propagandista da sua fé e que vê no paganismo uma “superstição desvantajosa”, enquanto o cristianismo é a “santíssima Lei” divina. » (págs. 16-17)